Restaurante Casa do Lau
Lugar da Igreja(Loivo ) 4920-070 Loivo
Tel. 251795162
Vila Nova de Cerveira
Nos últimos dias tive finalmente a oportunidade de viver uma das
minhas experiências eternamente adiadas: comer lampreia. E tinha sido
adiada por puro preconceito, como já tinha adiado os caracóis, as
enguias ou as experiência homossexuais (que vou continuar a adiar por
mais algum tempo).
Não há nada mais feio do que discriminar pela beleza física. Se nos deixassemos guiar apenas pela beleza, só comíamos cavalos, golfinhos ou aqueles lindos peixinhos de aquário. A gastronomia ensina-nos a não julgarmos os seres vivos pelo seu aspecto, devemos dar-lhes sempre uma oportunidade com os mais diversos temperos.
Atraído pela necessidade de dar sentido a três dias sem trabalho, o meu mercedes 190 deu entrada por volta das 12h30 em Vila Nova de Cerveira, onde decorre até ao final do mês o Festival da Lampreia. Uma passagem pelo Posto de Turismo chegou para tomar a decisão: vamos à Casa do Lau. Lau não é apelido que se dê a ninguém. Lau, reduz um homem de barba rija, um ranger, a um professor de aeróbica, o que não é a imagem ideal para um restaurante português. Mas paciência.
A casa do Lau é um restaurante bem agradável, com uma decoração a atiçar o homem ou a mulher requintado que há em nós, mas num ambiente bem prazenteiro. Possui ainda um interessante pátio com vistas sobre o rio Minho.
Vamos ao essencial. O atendimento é extraordinário. Diz-se que a simpatia dos funcionários faz ou não o sucesso do restaurante. Na Casa do Lau há simpatia, não a excessiva, a importunadora, não a simpatia ensaiada, mas natural e espontânea. No final, olhei para os trocos na minha bolsa e pareciam-me poucos para gorjeta. Estive quase a pedir-lhe o NIB para fazer uma transferência condigna.
A mesa. A abrir: orelhinha de porco em molho de cebola; meixão, que são as crias de enguia, que mais pareciam rebentos de soja, em azeite e alho (eram tão pequeninas e transparentes que nem sei se estavam no seu estado larvar ou se fizeram o parto prematuro às enguias para elaborar aquela iguaria); lulas recheadas; salada mediterrânica; patés de marisco, de peixe e de salmão.
Para acompanhar, o homem sugeriu-nos um verde tinto da casa, Vinha Barreirinho, um verde intenso, não demasiado adstringente, e que haveria de mostrar o que vale mais tarde.
Como éramos totalmente virgens neste prato pedi ao homem que nos tratasse bem e que não fosse muito bruto, para não ficarmos traumatizados. Eu queria evitar ver a lampreia no seu aspecto natural, enroladinha e pegajosa, a desafiar a nossa imaginação.
O homem convenceu o cozinheiro a separar o peixe em dois e trazê-la para a mesa metade à bordalesa e metade em arroz típico de lampreia.
Vamos por metades. A primeira metade chega-nos oculta numa travessa, mas que ao destapar-se, em vez da imagem ameaçadora, revela um cenário enternecedor, capaz de derreter os corações mais insensíveis e de fazer abrir a boca ao mais terrível terrorista detido em guantánamo.
Seis postinhas, ainda ténuemente ligadas entre si, com uma cor castanho-escuro a revelar umas horas bem passadas em banhos de vinho tinto. Quanto ao sabor, não há muitas palavras adequadas a esta descrição, mas arranjam-se algumas interjeições: uhmmmm, uai, iiiaaa, oba, salve, urra.
A segunda metade veio mergulhada no arrozal, com um aspecto que parecia um plágio descarado do arroz pica no chão. Intensa e aromática, transpirava vinho, vinagre, salsa e muito mais, que o homem não revelou.
Como detectar um principiante na lampreia? Inicia a refeição com aquele semblante de quem já viu muita coisa nesta vida, até o derrube das torres gémeas, e finalmente lá arranjou tempo para provar esse prato que muitos consideram iguaria, mas que não deve ser mais do que um peixe regado com vinho. Desconfia: o quê, o peixe salta para a boca, nem precisamos de talheres, não? Mas ao trincar, a mudança de expressão, um segundo, como um filme que passa inteirinho aos seus olhos: ah, meu Deus, era isto.
Anos e anos a ver milhares de portugueses a rumarem em busca das lampreias e eu com as minhas dúvidas e a desconfiar: o povo é ridículo e parolo. Mas a minha história é mesmo esta: passei muitos anos a fugir das tradições populares e outros tantos anos a tentar encontrá-las de novo. A matança do porco, as vindimas, as romarias ou as tascas. Um dia destes retomo as idas a Fátima, para o povo lá ir é porque há boa comida por trás.
A partir de agora é assim: se o povo faz é porque é bom, nem quero discutir mais.
Não me venham com aquelas tretas, ai os cientistas descobriram isto ou agora parece que aquilo faz bem. Eu só quero saber: o que é que o povo diz disso?
Meus caros, a lampreia entrou directamente para a minha magnífica lista de pratos favoritos!
E eu que pensei que já não era assim tão novo para voltar a sentir estes desvarios loucos da paixão gastronómica à primeira trinca.
Não há nada mais feio do que discriminar pela beleza física. Se nos deixassemos guiar apenas pela beleza, só comíamos cavalos, golfinhos ou aqueles lindos peixinhos de aquário. A gastronomia ensina-nos a não julgarmos os seres vivos pelo seu aspecto, devemos dar-lhes sempre uma oportunidade com os mais diversos temperos.
Atraído pela necessidade de dar sentido a três dias sem trabalho, o meu mercedes 190 deu entrada por volta das 12h30 em Vila Nova de Cerveira, onde decorre até ao final do mês o Festival da Lampreia. Uma passagem pelo Posto de Turismo chegou para tomar a decisão: vamos à Casa do Lau. Lau não é apelido que se dê a ninguém. Lau, reduz um homem de barba rija, um ranger, a um professor de aeróbica, o que não é a imagem ideal para um restaurante português. Mas paciência.
A casa do Lau é um restaurante bem agradável, com uma decoração a atiçar o homem ou a mulher requintado que há em nós, mas num ambiente bem prazenteiro. Possui ainda um interessante pátio com vistas sobre o rio Minho.
Vamos ao essencial. O atendimento é extraordinário. Diz-se que a simpatia dos funcionários faz ou não o sucesso do restaurante. Na Casa do Lau há simpatia, não a excessiva, a importunadora, não a simpatia ensaiada, mas natural e espontânea. No final, olhei para os trocos na minha bolsa e pareciam-me poucos para gorjeta. Estive quase a pedir-lhe o NIB para fazer uma transferência condigna.
A mesa. A abrir: orelhinha de porco em molho de cebola; meixão, que são as crias de enguia, que mais pareciam rebentos de soja, em azeite e alho (eram tão pequeninas e transparentes que nem sei se estavam no seu estado larvar ou se fizeram o parto prematuro às enguias para elaborar aquela iguaria); lulas recheadas; salada mediterrânica; patés de marisco, de peixe e de salmão.
Para acompanhar, o homem sugeriu-nos um verde tinto da casa, Vinha Barreirinho, um verde intenso, não demasiado adstringente, e que haveria de mostrar o que vale mais tarde.
Como éramos totalmente virgens neste prato pedi ao homem que nos tratasse bem e que não fosse muito bruto, para não ficarmos traumatizados. Eu queria evitar ver a lampreia no seu aspecto natural, enroladinha e pegajosa, a desafiar a nossa imaginação.
O homem convenceu o cozinheiro a separar o peixe em dois e trazê-la para a mesa metade à bordalesa e metade em arroz típico de lampreia.
Vamos por metades. A primeira metade chega-nos oculta numa travessa, mas que ao destapar-se, em vez da imagem ameaçadora, revela um cenário enternecedor, capaz de derreter os corações mais insensíveis e de fazer abrir a boca ao mais terrível terrorista detido em guantánamo.
Seis postinhas, ainda ténuemente ligadas entre si, com uma cor castanho-escuro a revelar umas horas bem passadas em banhos de vinho tinto. Quanto ao sabor, não há muitas palavras adequadas a esta descrição, mas arranjam-se algumas interjeições: uhmmmm, uai, iiiaaa, oba, salve, urra.
A segunda metade veio mergulhada no arrozal, com um aspecto que parecia um plágio descarado do arroz pica no chão. Intensa e aromática, transpirava vinho, vinagre, salsa e muito mais, que o homem não revelou.
Como detectar um principiante na lampreia? Inicia a refeição com aquele semblante de quem já viu muita coisa nesta vida, até o derrube das torres gémeas, e finalmente lá arranjou tempo para provar esse prato que muitos consideram iguaria, mas que não deve ser mais do que um peixe regado com vinho. Desconfia: o quê, o peixe salta para a boca, nem precisamos de talheres, não? Mas ao trincar, a mudança de expressão, um segundo, como um filme que passa inteirinho aos seus olhos: ah, meu Deus, era isto.
Anos e anos a ver milhares de portugueses a rumarem em busca das lampreias e eu com as minhas dúvidas e a desconfiar: o povo é ridículo e parolo. Mas a minha história é mesmo esta: passei muitos anos a fugir das tradições populares e outros tantos anos a tentar encontrá-las de novo. A matança do porco, as vindimas, as romarias ou as tascas. Um dia destes retomo as idas a Fátima, para o povo lá ir é porque há boa comida por trás.
A partir de agora é assim: se o povo faz é porque é bom, nem quero discutir mais.
Não me venham com aquelas tretas, ai os cientistas descobriram isto ou agora parece que aquilo faz bem. Eu só quero saber: o que é que o povo diz disso?
Meus caros, a lampreia entrou directamente para a minha magnífica lista de pratos favoritos!
E eu que pensei que já não era assim tão novo para voltar a sentir estes desvarios loucos da paixão gastronómica à primeira trinca.
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